Por que eu gosto tanto de ser Doula?

Me Descobrindo neste Mundo

 

Sou extremamente grata à maternidade , pois através dela me tornei doula.

Formada em Fisioterapia pela PUCCAMP, em 2003, e especialista em Saúde da Mulher pela UNICAMP, em 2004, onde toda quinta tínhamos uma palestra com temas variados. Um belo dia leio no mural o tema: “DOULA”. Que raio é isso? Uma técnica? Um Aparelho? Minhas supervisoras reforçaram que estávamos intimadas a comparecer .

Lá  fui eu à palestra me encantar  com o ser Doula. A doula ia palestrando e dentro de mim crescia uma certeza, é isso que quero pra vida!

Namorei o curso por anos, mas acabava sempre optando por cursos relacionados à Fisioterapia e de acordo com a demanda da clínica onde trabalhava.

Depois de 8 anos, engravidei do Caetano (2012) e algo dentro de mim me impulsionava a  busca de informações. As consultas de pré natal não me eram suficientes. Eu queria algo diferente.

Foi então que me deu um clic e lembrei da palestra de Doula. Rapidamente entrei no Google à procura de doulas. Encontrei a incrível Renata Olah que me deu a direção da caminhada.

E lá fui eu barriguda fazer o curso de doula.

 

Qual a minha  real intenção no curso de Doula?

 

Confesso que, ao realizar o  curso, eu buscava informações pra minha gestação.Queria conhecer esse universo da Doula e saber se contrataria uma pra mim.

Apesar de fisioterapeuta  em saúde da mulher eu, ainda, não havia encontrado respostas pra minha gestação e maternidade.

Realizei o curso em Campinas, na ANDO, com Lucia Caldeyro, que percepção e sensibilidade ela tem.

Foram dias incríveis, que tocaram sentimentos profundos.

E nasce mais uma  certeza; eu queria um parto domiciliar planejado, sentia que precisava passar pelo processo de trabalho de parto e em casa era o local onde me sentiria à vontade.

Parto Domiciliar Planejado: Foi ou não foi?

Cheguei em casa do curso encantada. Porém acredito não ter conseguido transmitir esse encantamento todo para o Marcão, meu marido. Ficamos na velha e  boa conversa: “Temos convênio…o que será de tão diferente?”

Da doula eu não abria mão, ela estava garantida. Silvia M. Fernandes, minha doula, amor à primeira vista. Nos nossos encontros ela lançou a semente do parto domiciliar planejado.  Como o coração pulsava pelo parto domiciliar, achei  interessante levar o Marcão conhecer as parteiras (doce ilusão de que elas o convencessem). E fomos nós no Arte de Nascer, Camila Claro de Castro e Adriana de Lima Mello nos receberam super bem e nos contaram um pouco de suas trajetórias e do parto que eu almejava  tanto.

A minha certeza se confirmava, mas agora eu também tinha  a incerteza do que o Marcão pensava e queria. Nada definido. No meu último encontro com a Silvia, ela nos perguntou: “e o que vocês pensaram sobre o parto domiciliar?” Antes mesmo que eu falasse algo, Marcão respondeu: “Vamos fazer!”, sou grata à formação de Osteopatia dele, pois transformou muito o seu olhar.

“Oi? Como assim?Assim? Sério? Sério mesmo?” E aquela paz invade meu ser, a alegria toma conta, sim era isso o que eu queria. Corri ligar pras parteiras com 36 semanas de gestação e aguardar Caetano nascer.

Nacimento de Caetano, 2013. (https://vimeo.com/85167505)

Vou abrir meu coração, eu não imaginava o que me esperava, mas havia uma certeza de que o trabalho de parto era algo de que eu precisava viver. Foi um parto demorado.

As primeiras contrações foram sentidas numa segunda-feira, de Carnaval, justo o dia em que planejei arrumar a bagunça na qual a casa se encontrava. Marcão foi à academia e resolvi esperá-lo. A cada 20 minutos sentia um desconforto, se tornou uma constante. Quando ele chegou, resolvemos almoçar fora. “Churras” na casa de amigos, aliás minha amiga havia se formado como doula e também acompanharia meu parto, Dariane Zolezi, um anjo em nossas vidas.

Foi no “churras” que saiu meu tampão, a princípio que susto, estou sangrando e 1 segundo depois, é o tampão. Essa mensagem correu do banheiro até o quintal e eu ouvia o Marcão gritando animado: “O moleque vai nascer!”

Mas estava tudo tranquilo, era apenas um desconforto, percebi que o espaço entre as contrações diminui e que sentar na beirada da cadeira era mais confortável. Avisei a equipe sobre os acontecimentos, mas eu continuava tranquila.

As 16:30, chamei o Marco para irmos comprar algumas coisas que faltavam pro parto, morávamos em Santa Bárbara do Oeste e fomos até Americana . Na farmácia, senti as contrações apertarem e a necessidade de debruçar no balcão.

A volta pra casa foi um pouco desconfortável, o Marcão ria, eu dizia que não era com ele, mas ria  junto, aquele mix  de felicidade com ansiedade. Chegando em casa, o Marcão foi atender um amigo nosso, o Chicão. E eu fui avisar a equipe, depilar as pernas e entrar no chuveiro morno por 20 minutos. Foi minha confirmação, é trabalho de parto, as contrações não cessam.

Nesse meio tempo, minha avó me liga, contrações apertando e eu disfarçando, ninguém sabia do nosso plano de parto. Achávamos que quanto menos gente soubesse, melhor.

A equipe chega… 36 horas depois o Caetano nasce. Mas foi o tempo de que precisamos. Sabe aquele sentimento profundo que toquei no curso? Pois é, veio com força total. Minha mãe faleceu antes de eu completar 2 anos e quem me criou foi a avó, que me ligou, rs. Pensamentos mil vinham a minha cabeça: “Minha mãe não teve oportunidade de ser  minha mãe. Será que eu sei ser mãe? Será que dou conta de ser mãe?” E a casa naquela bagunça. Eu pensava: “Não dou conta nem da casa nem do marido, como vou administrar tudo isso com um bebê? E minha avó, que foi minha mãe, talvez não veja o meu filho crescer e nem tenha condições de me ajudar, como fazem as mães.” Foi aí que tudo desandou, não saí dos 8 de dilatação, nada do expulsivo chegar. Isso tudo me lembra um texto da Ana Cris Duarte, onde ela reforça a importância  de parir dores e medos antes do parto, sou um exemplo real. Nunca havia me atentado que isso seria tão importante e que tinha tanto peso. Mas foi o início da minha transformação como pessoa.

foto: Focco Visual

Maternidade meu aprendizado constante.

Agradeço a equipe por permitir que minha vontade acontecesse de forma longa e paciente. Hoje sei porque foram necessárias 2 doulas.

Mas e o Doular?

Voltemos ao tempo. Ainda grávida do Caetano, fiz um estágio no hospital em Americana. Pessoal, eu preciso ser sincera, chegar à maternidade me dava frio na barriga, mil dúvidas, como agir? O que  falar? Às vezes me sentia engessada e ia embora  refletindo em como melhorar e me soltar.

Depois que o Caetano nasceu fiquei em stand by. Em novembro de 2013, nos mudamos para Itu. Aqui eu  não conhecia muita gente, mas conhecia a Fabiana Carvalho, doula também. Através de um post da Gisele Leal (Mulheres Empoderadas), fomos encontrando outros profissionais e mães dispostos a mudar o cenário de nascimento da cidade, criamos o @gaia_maternidadesaudavel. Caminhamos a passo de formiga e sem doulagem.

Eis que recebo uma mensagem no messenger, uma gestante procurando meus serviços de doula. Uiiiipiiii, fiquei muito entusiasmada. “Como ela me achou?” Uma conhecida falou que eu fazia esses  “paranauês” de parto. Enfim, ela me  indicou e cabia a mim explicar o meu trabalho. Caetano já tinha 1 ano e 10 meses e eu estava grávida do Benício.

Após o estágio minha primeira doulagem. Foi a estreia, parto domiciliar planejado de bebê empelicado. Eu sou muito grata a esse casal, Thomas e Debora, pela confiança. Acompanhei o parto do Miguel e acredito ter sido positivo, porque depois acompanhei o nascimento da Cecília, quase nasce na minha  mão. Me falaram de um terceiro, “me chama que eu vou!”

Foto: Joyce Kamo fotografia

As doulagens vêm crescendo exponencialmente, o frio na barriga ainda existe, mas com menos receio e insegurança. É sempre emocionante receber a ligação: “Mel vem!!”

Eu fico acordada à noite toda muitas vezes, um parto emenda no outro, porém saio super bem, cheia de energia dos partos.

Porque eu gosto tanto de ser Doula?

Vamos lá que essa parte é boa demais.

Doular renova minhas energias!

Uma doulanda uma vez me disse que meus  olhos brilham quando falo do assunto e que deveria escrever sobre  isso, que precisava estar nas mídias sociais, transmitindo conhecimentos e amor.

Eu tenho um prazer gigantesco em orientar no pré parto, auxiliar na  escolha da equipe, do hospital. Conversar sobre os mitos. Poder  auxiliar no pós parto onde a mulher se depara com uma mudança de vida. E presenciar nascimento é algo divino, transformador.

Doular me traz à tona o amor. Lembro das  minhas gestações, dos  meus partos, do quanto amo minha família. Isso me faz querer ser melhor ainda e amar cada vez mais.

Créditos: Joyce Kamo

Não estamos à toa no  local que estamos, ajudamos e  somos ajudados. Eu não apenas contribuo com a história de nascimento dessas famílias; eu estou compreendendo a minha própria história. A Maternidade é algo  transformador. Trabalhar com isso é melhorar como pessoa a cada dia.

A gratidão que a família expressa me deixa sem palavras, mesmo que eu ache que aquela mulher daria conta sem mim, a gratidão é enorme. Essa gratidão comprova os estudos do benefício da presença da doula. E o impacto positivo que isso traz na amamentação e maternidade. A Gratidão é a cereja no bolo, completa a cena.

E é por isso que sou  grata à maternidade, por me colocar aqui onde estou, doulando.

Me Descobrindo neste Mundo

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Publicado por Melissa Reis

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